quinta-feira, 28 de julho de 2011

O treino pautado na complexidade: O processo!

Processo tem como um de seus significados no dicionário: “série de ações sistemáticas visando a certo resultado.”No futebol o processo pode ser definido como: “série de exercícios sistematizados visando o desenvolvimento do jogar da equipe e de seus atletas

Uma metodologia de treino pautada no jogo e para o jogo, não pode se resumir a uma sequência de mini-jogos. Por isso antes de chegarmos nas atividades práticas vamos falar sobre o “processo de treino”.

O processo de treino pode ser definido como uma série de exercícios sistematizados que visam o desenvolvimento constante do jogar da equipe e de seus atletas.

Sistematizar os exercícios significa, adotar uma progressão pedagógica entre as atividades, onde cada uma terá ligação com as demais. Além disso, ao longo do tempo as regras dos jogos  evoluirão e submeterão os jogadores a novas situações-problemas.

Pois bem.

Sendo assim, podemos supor que uma atividade de 1x1 deve vir antes de uma atividade de 11x11, uma atividade com regras de passes deve vir antes de uma atividade com regras de passe, chute, pressão e compactação...

Contudo, elaborar o processo não é tão simples assim!

Antes mesmo de definirmos as atividades, precisamos definir como os conteúdos devem ser distribuídos ao logo do planejamento.

Definir os conteúdos não é trivial e necessita de em conhecimento adequado do grupo. A comissão precisa avaliar o nível de entendimento de jogo dos atletas para definir quais conteúdos serão abordados desde o início do processo.

Com a definição do nível dos atletas e levando em conta o modelo de jogo, os conteúdos devem ser distribuídos ao longo do planejamento.
A partir deste planejamento as atividades serão concebidas. No início as atividades terão um grau de complexidade menor (assim como os conteúdos a serem trabalhados) que será aumentado ao longo do tempo, progressivamente.

Abaixo temos 2 atividades que tem como ênfase o desenvolvimento da marcação zonal e da estruturação do espaço.

Atividade 1
- Atividade é composta por duas equipes de 4 jogadores, mais 1 coringa que joga sempre para a equipe que tem a posse de bola.
- O objetivo da equipe que está com a posse de bola é fazer o gol no golzinho central (2 pontos) ou derrubar os cones nas laterais (1 ponto).



Atividade 2
- Atividade composta por duas equipes de 4 jogadores, mais 1 coringa que joga sempre para a equipe que tem a posse de bola.
- Objetivo da equipe que está com a posse de bola é fazer o gol no golzinho central (2 pontos), derrubar os cones nas laterais (1 ponto) ou receber um passe a frente da linha tracejada (1 ponto) neste último caso o jogo não pára.



Note que as atividades obedecem uma sequência lógica. A atividade 2 em comparação com a atividade 1 gera um novo conflito para a equipe que está sem a posse de bola, pois além de se preocupar com o gol e com os cones agora a equipe precisa evitar a progressão da equipe que está com a bola, com isso um novo conteúdo surge dentro do processo e os jogadores precisam se auto-organizar de uma nova forma. Forma que se o processo está adequado deve ser superior a anterior e assim sucessivamente.

O processo não tem fim porém a busca por uma forma de jogar superior deve ser constante!

Assim como o processo os conteúdos que envolvem o treinamento no futebol pautado na complexidade parece não tem fim mas nossa busca por conhecimento deve ser constante...

Até a próxima!

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Treino pautado na complexidade: trazendo o jogo para o treino


Um ambiente de treino com situações-problemas que integre todas as componentes do jogo é fundamental para o desenvolvimento integral do jogador.

A preparação desportiva por muito tempo teve como objetivo principal o desenvolvimento físico e técnico dos atletas. Esse fato ocorreu, pois o futebol importou e incorporou as teorias provenientes do atletismo e do fisiculturismo.

Com o passar dos anos as teorias e os paradigmas que norteavam o treino foram se modificando.

Hoje estamos em pleno processo de integração das componentes do jogo de futebol. A complexidade é o paradigma emergente, porém não é trivial criarmos uma sessão de treino que integre e desenvolva as capacidades física/técnica/tática/mental dos jogadores de forma ideal.

Antes mesmo de pensar a sessão de treino é preciso olharmos para o jogo e fazer uma breve análise de como é nossa capacidade de entendimento do mesmo, pois a forma como enxergamos o jogo reflete diretamente na nossa concepção de treino. Logo, para podermos discutir e criar treinos sobre uma nova perspectiva é preciso olharmos para o jogo através dos óculos da complexidade.

Com esses óculos podemos observar que o jogo é físico, é técnico, é tático e é mental de forma integrada. A partir dessa análise podemos iniciar o pensamento sobre o treino pautado na complexidade.

Se o jogo é físico, é técnico, é tático e é mental o treino precisa ser da mesma forma. Se isso não ocorrer estamos indo contra a especificidade da modalidade. O treino sobre a perspectiva da complexidade deve gerar adaptações específicas no JOGAR da equipe e não apenas no CORRER, PASSAR ou OCUPAR UM ESPAÇO dos jogadores.

Mas como fazer isso?

Trazendo o jogo para o treino!

A resposta parece óbvia mas carrega uma infinidade de conceitos e conteúdos. Trazer o jogo para o treino significa submeter os jogadores as imposições do jogo, porém de maneira orientada e sistematizada pela comissão técnica.

Trazer o jogo para o treino não significa ainda criar vários mini-jogos ou passar apenas coletivos para a equipe.

Trazer o jogo para o treino é criar um ambiente de desenvolvimento pautado no jogo e para o jogo. Neste ambiente o DNA do futebol estará presente.

Este DNA nos mostra que o jogo é imprevisível, que seus acontecimentos são aleatórios, que há sempre uma disputa entre duas equipes, que há um campo e uma bola...

Porém, não basta apenas ter o DNA do jogo senão ficaremos na “metodologia do jogo pelo jogo”, precisamos ir além e criar regras que potencialize determinados comportamentos que desejamos para a equipe. Por exemplo, se quero trabalhar a manutenção da posse de bola devo criar regras onde a equipe seja beneficiada quando fica com a posse de bola, ou seja a equipe marca ponto quando fica com a bola por um determinado tempo ou quando trocar n passes. Esse tipo de regra não descaracteriza o jogo e cria uma situação onde um determinado comportamento é estimulado.

Cada atividade com sua regra traz uma situação problema para os jogadores que precisam criar estratégias para resolver cada uma delas. Essa capacidade de resolução de problema deve ser estimulada treino a treino, entretanto para que isso ocorra de forma gradual é preciso organizar um processo onde cada atividade terá ligação com as demais e trará sempre uma nova informação para cada um dos jogadores, criando assim um ambiente de aprendizado constante.

Criar as atividades e organizá-las processualmente não é nada trivial, entretanto é um desafio que se faz necessário nesta metodologia pautada na complexidade.

Bruno Baquete

domingo, 10 de julho de 2011

Treinamento no futebol: teoria e prática

Segue minha coluna de estréia na Universidade do Futebol
 
Caros leitores da Universidade do Futebol,

é com grande orgulho que inicio minha caminhada junto a vocês neste espaço extremamente nobre do futebol brasileiro. Sei que o desafio é muito grande, mas firmo o compromisso de fazer o que for preciso para trazer colunas dignas do mesmo.

Espaço que será preenchido por colunas de campo. Tais colunas trarão discussões práticas de nosso dia a dia de treino/aula no futebol. Idealizei a forma pensando nas diversas discussões que tive com inúmeros colegas que buscavam entender como todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos pode ser colocado de modo integral na prática. A ideia é trocar experiências carregadas de conhecimento e alinhadas com as novas tendências do futebol.

Serão várias as abordagens dentro desse tema a fim de propiciar um espaço amplo e rico em discussões de campo. Desde a elaboração de atividades, passando pela abordagem, pelo processo, conteúdos físico/técnico/tático/mental, pelo relacionamento com a comissão, enfim, por tudo aquilo que faz parte da prática de milhares de profissionais que têm o sonho de conquistar o reconhecimento de seu trabalho.

Nosso espaço, assim, começa com uma discussão extremamente pertinente: teoria versus prática. Antes mesmo dos primeiros passos de minha formação acadêmica, iniciei um longo e desafiante caminho na prática.
Observava tudo o que era feito nos campos de escolas de futebol, projetos sociais, categorias de base, equipes profissionais, etc. Naquele momento tudo era anotado e visto como um grande aprendizado. Minha vontade era “juntar” tudo e aplicar esse “pseudo-processo” de treino em um grupo qualquer. Como ainda não podia, resolvi guardar aquilo para o momento certo.

Logo que iniciei minha graduação, fui bombardeado com inúmeras informações e minhas observações começaram a fazer mais sentido. Porém, muita coisa parecia inexplicável ainda.

Resolvi então aliar minha formação com a prática e fui a campo. Com o tempo notei que algumas coisas davam certo, outras nem tanto. Fui percebendo que havia certo ar de desconfiança da prática sobre a teoria e vice-versa. Essa questão me inquietou por muito tempo e me fazia a seguinte pergunta:

Prática ou teoria? O que resolverá seus desafios no dia-a-dia de treino?

Fui testando e aplicando teorias distintas com atividades vistas na prática. No fim das contas vi que o processo de treino, por mim elaborado, era uma grande colcha de retalhos com diversas linhas teóricas e práticas.

Neste momento um de meus professores abordou a dicotomia entre teoria e prática. Ele afirmou que toda teoria surge de observações e questionamentos provenientes da prática. Além disso, disse que a teoria e a prática não resolverão nenhum problema por si só, mas é preciso definir uma linha e aliar ambos em busca de um objetivo.

A partir deste momento todas as informações por mim obtidas começaram a fazer sentido. Notei que minhas observações da prática não deviam ser reproduzidas em meus grupos de qualquer forma. Era preciso um referencial a se seguir. A partir do mesmo, o processo tinha que ser construído e aplicado na prática.

Criei vários processos. A prática me ensinou que nem tudo sai conforme esperamos. A cada dia aprendia coisas novas com a prática (coisas que não faziam parte da teoria, muitas vezes). Observei que a teoria por si só não passava de texto no papel e que a prática por si só não respondia minhas perguntas.

Vi que teoria e prática devem caminhar juntas para dar sentido ao processo. Uma atividade de 3 x 3, com dois golzinhos e dois toques deve ser concebida a partir de um referencial teórico e tem sentido se funcionar na prática. Sendo assim, elaborar o processo fica mais palpável e menos aleatório.

Para mim, hoje é impensável juntar inúmeras atividades vistas em outras equipes e aplicar em meu grupo, como no início de minha formação. A teoria me dá um norte e a experiência na prática me diz o que pode ou não dar certo, além de me dizer como e onde o grupo está em sua evolução.

Com tudo isso, vejo ainda que muita coisa precisa ser aprendida e aplicada. Esse processo é contínuo e a cada dia surge uma informação nova.

Por fim, o desafio é aliar teoria e prática.

Vamos a campo! Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br