quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Devo ou não treinar em função do adversário?

O jogo de futebol é composto por dois subsistemas chamados equipes, que se enfrentam em busca do melhor resultado possível dentro da partida, que nem sempre é o resultado.

Neste cenário podemos entrar no jogo “às cegas”, ou seja sem saber nada sobre o adversário (isso pode acontecer na base ou até mesmo no profissional), ou “às claras”, onde sabemos quem estamos enfrentando, em relação ao seu modelo de jogo com seus pontos fortes e fracos.

Tendo a possibilidade de conhecer a equipe adversária e fazer uma análise de seu jogo podemos preparar a equipe para os problemas contextuais ao adversário.

Contudo,

Isso significa:

Mudar minha forma de jogar em função do adversário onde me adéquo ao seu modelo de jogo.

OU

Potencializar minha forma de jogar, preparando meus jogadores para os problemas que podem aparecer no jogo em função do modelo do adversário.

Saber os pontos fortes e fracos não significa que minha equipe deva mudar sua forma de jogar em função do adversário!

Conhecendo a equipe que vou enfrentar devo preparar meus jogadores para os problemas que podem aparecer no jogo em função do modelo adversário.

Além de preparar minha equipe, posso manipular a equipe adversária para fazer aquilo que eu espero, contudo, para que isso ocorra, não posso pensar apenas no adversário e em suas características mas no jogo propriamente dito (Será que posso manipular o jogo?...)

A fim de preparar minha equipe para os problemas do jogo em função do adversário posso trazer informações para os jogadores e criar atividades CONTEXTUAIS para submeter os mesmos a uma realidade de treino similar ao jogo do final de semana, (ou meio de semana).

Ser similar ao jogo significa que os problemas emergentes no treino serão, primeiro, condicionados ao jogo e segundo, ao adversário que a equipe enfrentará.

As atividades contextuais, trazem para a sessão de treino um ambiente onde os jogadores irão ser submetidos aos problemas referentes ao modelo de jogo do adversário.

Essas atividades têm seu volume aumentado ao longo das categorias e no profissional atinge seu maior volume dentro da semana, porém não deve ser a única forma de treinamento.

Bom, vamos ao exemplo prático.

Se souber que a equipe que enfrentarei no final de semana tem um balanço ofensivo com 3 jogadores disposto em linha no meio de campo, com um contra ataque extremamente veloz e eficiente, posso criar uma atividade onde essa situação seja um problema do treino.

A atividade abaixo ilustra como isso pode ser feito:

Descrição
- Atividade de 11 X 11, sempre que a bola sair no campo defensivo da equipe amarela os coringas devem repor a bola em jogo rápido para os 3 atacantes da equipe.


Regras e Pontuação

- Gol vale 1 ponto e se for realizado de contra ataque pela equipe amarela vale 3.
Com essa atividade os jogadores serão estimulados durante a semana a resolverem esse problema e no jogo isso não será uma novidade.



Além disso, posso adotar estratégias para anular esse ponto especifico do adversário de forma organizacional, onde o adversário será direcionado a jogar de uma forma diferente que ele acostumado.

Perceba que o objetivo não deve ser mudar a forma de jogar da minha equipe em função do adversário, mas prepará-la para agir melhor no jogo.

Até a próxima!

domingo, 2 de outubro de 2011

A marcação por zona

“A organização defensiva é, acima de tudo, uma questão de defender com lucidez. Aquilo que se deve fundamentalmente procurar é fechar os espaços e assim condicionar os adversários.”
(Frade, 2002)

 
Nas últimas semanas, recebi vários e-mails sobre questões relacionadas à marcação por zona. Por isso, resolvi antecipar a discussão sobre essa temática.

Antes mesmo de iniciarmos a reflexão acerca da marcação zonal, precisamos discutir o conceito de marcação aplicado ao futebol e destacar que o mesmo é parte fractal da organização defensiva da equipe.

A marcação pode ser definida como “o ato ou resultado de marcar um espaço e/ou um adversário direto” (adaptado de Amieiro, 2005).

Partindo desta definição, podemos discutir quatro formas básicas de marcação em relação ao espaço e ao adversário:

Marcação zonal: age sobre o espaço.
Marcação individual: age sobre o jogador adversário.
Marcação individual por setor: cada jogador é responsável por um espaço e pelo jogador adversário que estiver dentro do mesmo.
Marcação mista: utiliza tanto a marcação zonal, como a individual, que se alternam em circunstâncias específicas do jogo.
Marcação híbrida: apresenta características da marcação zonal e individual, ao mesmo tempo, que se manifestam em decorrência da estratégia da equipe.

Cada um desses tipos de marcação tem inúmeras outras referências que a orientam, mas não vamos discuti-las neste momento. Nosso foca agora é a marcação por zona. Nesta, cada jogador administra um espaço do campo que se modifica em função da bola, de seus companheiros e dos gols.

O objetivo da marcação é otimizar a ocupação espacial da equipe, deixando o “campo pequeno” para o adversário que ataca. Na região onde a bola se encontra, a busca é pela criação da superioridade numérica, sem desguarnecer o lado oposto do campo que deve permanecer “vigiado” pelos jogadores mais próximos deste setor.

A região onde a bola se encontra é chamado por alguns autores de “lado forte”, enquanto a região oposta é chamada de “lado fraco”. Em cada uma dessas regiões há uma preocupação diferente por parte da equipe, e varia conforme o Modelo de Jogo de cada uma delas.

Para Nuno Amieiro, em seu livro “Defesa a Zona no Futebol”, ocupar os espaços do jogo de forma inteligente criando superioridade numérica na região da bola é um dos fatores fundamentais para “controlar” os adversários.

Além de criar superioridade numérica na região da bola e “vigiar” o lado oposto a ela, na marcação por zona se preconiza a presença de linhas escalonadas que sevem como coberturas e visam com isso “aumentar” o caminho entre a bola e o gol.

Vale destacar ainda que na marcação por zona a atenção do jogador não deve ser apenas na ocupação do seu espaço, mas no desenvolvimento de seu jogo como um todo, levando em conta as demais referências do
Modelo de Jogo.

Na marcação por zona, o que se busca é uma marcação coesa, dinâmica, homogênea com o intuito de fornecer uma referência coletiva comum aos jogadores dentro da organização defensiva da equipe.

Termino com uma frase de Ayrton Senna, grafada em seu capacete histórico, diante do qual passo todos os dias quando vou para o campo de treino:

"Há um grande desejo em mim de sempre melhorar. Melhorar é o que me faz feliz. E sempre que sinto que estou aprendendo menos, que a curva de aprendizado está nivelando, ou seja, o que for, então não fico muito contente. E isso se aplica não só profissionalmente, como piloto, mas como pessoa”.

Até a próxima!

Referência bibliográfica:
Amieiro, N. Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005