Manter a posse de bola por manter, nada mais é que se defender com bola. A manutenção da posse de bola deve ser feita com o objetivo de desequilibrar o sistema defensivo da equipe adversária e criar chances de gol.
A manutenção da posse de bola é um comportamento coletivo desenvolvido treino a treino. Cada atividade dentro de uma sessão deve ser um fractal do jogo e potencializar determinados comportamentos. Em algumas colunas atrás apresentei uma atividade para a manutenção da posse de bola em um momento inicial do processo de treino. Neste artigo apresentarei uma atividade com o mesmo objetivo principal porém com complexidade mais elevada e com outros objetivos secundários sendo trabalhados.
Lembrando ainda que toda atividade além de respeitar a especificidade do jogo, deve respeitar o modelo de jogo da equipe. O jogo apresentado a seguir tem como norte um modelo e faz parte de um processo de treino hipotético.
A atividade proposta tem a seguinte organização:
- Equipe de defesa composta por 5 jogadores mais o goleiro.
- Equipe de ataque com 6 jogadores.
- O jogo acontece em meio campo.
- Existem duas faixas laterais demarcadas no campo (A e B).
As regras de pontuação são as seguintes:
- Equipe de Defesa
- Marca 1 ponto quando inverte a jogada da faixa A ou B (de forma direta ou não).
- Marca 1 ponto quando realiza 7 passes.
- Marca 2 pontos quando realiza 7 passes com a participação do goleiro.
- Equipe de Ataque
- Marca 1 ponto quando realiza 10 passes.
- Marca 3 pontos quando marca o gol.
O tempo é relativo e determinado pela capacidade de resolução de problemas dos jogadores. O treinador deve realizar intervenções voltadas para o cumprimento dos objetivos da atividade. Neste caso específico deve se focar nas questões que envolvem a manutenção da posse de bola.
Outro ponto importante é a forma como a intervenção e as pausas serão realizadas, pois isso influenciará diretamente na densidade da atividade.
Aqui cabe um parênteses para discutir rapidamente a densidade das atividades. A densidade segundo Weineck (2000) se refere à relação entre as fases de carga e de recuperação. Em atividades analíticas para o desenvolvimento da velocidade, por exemplo, se calcula a densidade em relação ao tempo ou distância da carga (sprint de 15 metros) e o tempo/distância de recuperação (trote de 150 metros). Neste caso a densidade é de 1/10, ou seja, para cada 1 metro de estímulo ele tem 10 metros de recuperação. Em atividades em forma de jogo a densidade pode ser um excelente parâmetro para monitorar as questões físicas que envolvem o jogo. Em um jogo a densidade pode ser calculada através da relação entre ações e deslocamentos e pausas. O item mais indicado para fornecer esses parâmetros é o GPS. Nos próximos artigos vou detalhar como isso pode ser feito.
A atividade descrita acima pode ter densidades diferentes, se dentro do planejamento este jogo for inserido em um dia de densidade alta, o treinador deve fazer as intervenções de forma pontual e com comandos imperativos. Já se a atividade for inserida em uma sessão com densidade baixa a atividade terá pausas e o treinador pode fazer intervenções mais longas com voz de comando mais branda.
Voltamos agora para as regras da atividade. A defesa é estimulada a desenvolver a manutenção da posse de bola desde a saída de jogo e a utilizar o goleiro. Além disso as regras direcionam para a circulação da bola pelo campo todo de lateral a lateral. O ataque é estimulado a manter a posse de bola com objetivo de criar espaços na defesa adversária e progredir no campo de jogo em busca do gol. Tanto o ataque como a defesa quando estão sem bola devem buscar recuperar a mesma rapidamente, a fim de evitar a pontuação da equipe adversária. A defesa possui um jogador a menos para se comportar de uma forma zonal sem a posse de bola, trabalhando assim outros objetivos secundários dentro do modelo de jogo hipotético.
Qualquer atividade em formato de jogo deve ser pensada além das questões de campo e englobar o máximo de variáveis com o objetivo de potencializar a forma de jogar integral da equipe.
Referências
WEINECK, J. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Ed. Phorte, Guarulhos, SP. 2000.
Bruno Baquete
2 comentários:
Muito bom esse jogo Bruno... o resultado é muito rápido. Da para limitar o número de toques na bola para aumentar a velocidade de circulação da bola e das movimentações dos jogadores, o que aumenta a demanda física.
Trabalho bem completo!
Profº Adriano Ridolfi
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