terça-feira, 22 de novembro de 2011

Como controlar as demandas físicas de jogo no treino complexo

Uma dúvida paira no ar quando falamos em treinos pautados nos jogos: como posso saber se o objetivo físico-técnico-tático-mental da sessão de treino está sendo atingido?
Em uma sessão de treino complexa, os jogadores são submetidos a uma carga de jogo, em que os fractais estão sendo desenvolvidos concomitantemente com o todo complexo.
Nesse tipo de sessão, o controle das variáveis do treino parece ser extremamente complicado e por vezes acaba sendo deixado de lado. Sendo assim, passo a fragmentar e a não ter controle daquilo que está acontecendo no treino.
Não tendo o controle das variáveis, deixo o acaso tomar conta da sessão e o desenvolvimento da performance de jogo de minha equipe fica extremamente prejudicada.
Em um treino pautado na complexidade preciso saber qual a demanda física, técnica, tática e mental de cada atividade.
No planejamento do treino, essas demandas devem ser pensadas e cada uma delas deve ter uma meta de desenvolvimento específico.
Pensemos na questão física: em uma sessão X, o objetivo é o desenvolvimento da resistência anaeróbia lática. Sabendo disso, devo criar atividades com uma relação estímulo pausa adequada.
No caso do desenvolvimento da resistência anaeróbia lática, as atividades devem propiciar ao atleta um ambiente com uma carga de estímulos alta para um tempo reduzido de pausas.
Contudo, essa relação estímulo/pausa deve respeitar a especificidade do jogo: não posso ter um estímulo (entenda “estímulo” como a ação do jogador dentro de um jogo, e não no tempo da atividade em si) de cinco minutos para 30 segundos de pausa, pois isso não respeita a especificidade do jogo e gera uma sobrecarga negativa para o jogador.
Após o planejamento, devo aplicar o treino e verificar se este foi realizado dentro do esperado e é neste ponto que queria chegar: controle do treino.
Uma das ferramentas que mais ganha espaço atualmente é o GPS, que nos traz dados sobre o deslocamento, desde a distância total até a velocidade dos sprints. Com seus dados, posso dar um passo importante para verificar se os objetivos físicos da sessão estão sendo atingidos ou não.
Em uma sessão com o objetivo do desenvolvimento da resistência anaeróbia lática, devo verificar se o atleta realizou atividades de alta intensidade em períodos determinados de tempo e como foi o padrão de deslocamento durante toda a sessão (número de sprints, distância e velocidade de cada um deles, etc.).
A frequência cardíaca também pode auxiliar no controle do treino, quando podemos cruzar as informações do GPS com o gráfico do comportamento da frequência cardíaca dos jogadores.
No pós-treino, podemos avaliar o grau de exigência física através da coleta da percepção subjetiva de esforço dos atletas, comumente chamada de PSE. Essa ferramenta nos mostra quanto o treino foi exigente para cada um dos jogadores através da sua própria percepção.
É preciso, contudo, deixar claro como a avaliação deve ser feita e como cada um deve definir a “nota” dada ao treino. Normalmente, a PSE vai de 1 a 10, em que os valores indicam o nível de esforço dentro da sessão como um todo.
Para uma avaliação mais precisa, podemos utilizar ainda a análise de marcadores bioquímico-fisiológicos dos atletas, como a verificação do lactato na corrente sanguínea, dos leucócitos, das plaquetas, dos níveis de CK, de LDH, de uréia, de glicose, cortisol, etc., mas esse tipo de análise ainda está distante de grande parte dos clubes...
Por isso as informações do GPS, frequência cardíaca e percepção subjetiva do esforço são valiosíssimas para o controle adequado dos treinos.
Com esses dados, posso provar que os treinos estão propiciando um estímulo “físico” adequado aos atletas. Isso é fundamental para dar tranquilidade ao trabalho e provar que os jogos também treinam o físico.
Até a próxima!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O aquecimento específico ao treino de futebol


O papel do aquecimento é largamente abordado em inúmeros estudos científicos. Sua função geral é preparar o organismo para a prática esportiva.

Jürgen Weineck em seu livro clássico na preparação desportiva intitulado “ Treinamento Ideal” define com propriedade o papel do aquecimento nos treinos e jogos:

“Sob o termo aquecimento pode-se entender todas as medidas que servem como preparação para o esporte (seja para o treinamento ou competições). O aquecimento visa à obtenção do estado ideal psíquico e físico, a preparação cinética e coordenativa e a prevenção de lesões.”

Nessa definição poderíamos adicionar, no caso do futebol, que o aquecimento “...visa à obtenção do estado ideal técnico, tático, físico e psíquico...”, já que nessa modalidade esportiva os atletas são exigidos de forma integral desde o primeiro minuto da partida ou do treino.

Fisiologicamente o aquecimento, como o significado da própria palavra defini, tem por objetivo “aquecer” o organismo. Esse aquecimento é acompanhado; do aumento do metabolismo; melhor mobilização energética; aumento da irrigação tecidual; aumento da temperatura tecidual; aumento da atividade enzimática aeróbia e anaeróbia; aumento da resposta dos fusos musculares; aumento da lubrificação articular; redução do limiar de excitabilidade dos neurônios...

No aquecimento essas adaptações fisiológicas devem acontecer concomitantemente à adaptações cognitivas, onde os atletas serão preparados para os problemas específicos da sessão e do jogo propriamente dito.

O aquecimento não deve, então, se focar apenas em preparar os músculos, mas em preparar o SER para agir seja no treino ou dentro da partida.

Para que isso ocorra de forma adequada é preciso que o jogo já aconteça no aquecimento.
E lembre-se que as atividades em forma de jogo, devem obedecer um processo adequado e respeitar os conteúdos do modelo de jogo da equipe, no aquecimento isso deve ser da mesma forma.

Cada atividade desse primeiro momento do treino deve ser elaborada de forma conectada aos momentos seguintes do treino e deve obedecer os mesmo princípios.

Abaixo apresento um exemplo de “sessão de aquecimento” que obedece a temática hipotética de manutenção da posse de bola e mobilidade da parte central do treino.

Atividade 1

Descrição
- Atividade de 4 X 1, onde o objetivo dos 4 jogadores é manter a posse de bola pelo maior tempo possível.

Regras e Pontuação
- Jogador que está no meio da roda de jogadores sai desta posição quando recuperar a bola.
- Os 4 jogadores devem manter a posse das 2 bolas.



Atividade 2


Descrição
- Atividade de 3X 3, onde o objetivo das equipes é manter a posse de bola.

Regras e Pontuação
- Equipe que estiver com a posse de bola deve manter a mesma sempre em movimento e seus jogadores devem se deslocar constantemente pelo campo de jogo, se a bola ou algum jogador parar de se movimentar a equipe perde a posse da mesma.
- Equipe marca o ponto quando trocar 5 passes sem interrupção.


Atividade 3

Descrição
- Atividade de 3 X 3 + Coringa, onde o objetivo das equipes é manter a posse de bola utilizando o coringa.

Regras e Pontuação
- Equipe marca o ponto quando fizer um passe para o coringa e o mesmo devolver a bola para um jogador diferente (da mesma equipe) do que fez o passe para ele.



O tempo dessa sessão deve girar em torno de 15 a 45 minutos, dependendo das condições climáticas, estado de treinamento, período do dia, disposição psíquica e idade dos atletas, entre outros fatores.

O alongamento e outras atividades podem ser inseridas nesse momento do treino, mas todas de forma embasada e com seus devidos objetivos bem definidos.

Até a próxima!

Bruno Baquete
bruno@universidadedofutebol.com.br

Referências

WEINECK, J. Treinamento Ideal. Editora Manole: São Paulo, 9ª edição. 1999
WEINECK, J. Futebol Total: o treinamento físico no futebol. Editora Phorte: Londrina-PR. 1ª edição. 2000
KATCH, F. I. & MC ARDLE, W.D. Nutrição, Exercício e Saúde. MEDSI: Rio de Janeiro, 1996. 4ª edição. 1996