domingo, 14 de agosto de 2011

O treinamento de goleiro: para todos da comissão técnica!


Treinar o goleiro significa prepará-lo para resolver os problemas do jogo tanto na ação de proteção da meta como na participação da organização coletiva da equipe.

O goleiro é um jogador com ações distintas dos demais atletas no futebol. Ele é o único que pode tocar a bola com as mãos e que tem a difícil missão de proteger a meta das investidas do adversário.

Contudo sua ação se resume a proteção à meta?

Com o objetivo de responder a pergunta à cima fiz um estudo sobre a ação do goleiro dentro do jogo. Neste estudo analisei todos os jogos de 2 jogadores desta posição no Campeonato Brasileiro de Futebol de 2009.

O fato foi que me surpreendi um pouco com os resultados. Vou apresentar de forma resumida alguns dados encontrados.

Os dados gerais me mostraram que o goleiro A agiu em média 37 vezes durante o jogo, (contando apenas ações com bola) já o goleiro B agiu 28 vezes, 9 ações a menos. As equipes tiveram um desempenho parecido ao longo do campeonato e não houve diferença significativa nas finalizações sofridas em ambos, então comecei a refletir sobre os motivos que levavam essa diferença numérica de ações entre o jogadores.

Para análise dividi as ações em “Habilidades Específicas”(ações de proteção a meta), “Reposições” e “Passes”.

Ambos os goleiros tiveram a reposição como a ação de maior incidência dentro do jogo, seguido dos passes e por último, acreditem, ficaram as habilidades específicas.

Resolvi ir a fundo em cada uma das ações.

Nas habilidades específicas cada um agiu em média 7 vezes durante as partidas e a saída é a ação de maior incidência nesse aspecto.

Nas reposições os dados me mostraram que o goleiro A tinha um aproveitamento de 65,9% e o goleiro B 43,3%.

Nos passes essa discrepância era maior ainda 73,5% contra 46,8%. O goleiro B recolocava a bola em jogo e fazia o passe mais para a equipe adversária do que para sua própria equipe.

Em meio a esses dados observei que o goleiro A além de ter um aproveitamento maior nos passes participava mais neste quesito. Enquanto o goleiro B realizava 6 passes em média por jogo o goleiro A realizava 15. Sendo assim a diferença “estatística” entre os goleiros estava na participação com os pés dentro do jogo.

Com esses dados podemos levar a discussão para inúmeros caminhos, contudo quero discutir a especificidade do treinamento e a participação deste atleta no modelo de jogo da equipe.

Para o treino ser específico ele precisa se apropriar da realidade encontrada no jogo. No jogo observei que esses atletas específicos agem relativamente pouco em ações de proteção a meta, logo o treino deve levar em consideração esse fato. Se não corro o risco de preparar o goleiro apenas para essas “7 ações” de proteção a meta dentro do jogo.

A realidade desta posição não se resume a essas ações, contudo as ações de proteção a meta são emergências, aleatórias e requerem uma resposta adequada para que o adversário não marque o gol. Para dar as melhores respostas este jogador precisa ser treinado de forma ADEQUADA e não de forma EXAUSTIVA, pois isso não representa a especificidade do jogo.

Um goleiro no jogo dificilmente fará 4 defesas no mesmo lance, ele terá que defender bem apenas 1 bola durante um longo intervalo de tempo, às vezes durante todo o jogo. Para defender essa única bola ele precisa analisar, tomar a melhor decisão e agir da melhor maneira possível.

Durante o restante do tempo de uma partida o goleiro precisa estar inserido na organização coletiva da equipe!

Essa inserção não é nada fácil e os treinos precisam ser elaborados para tal.

Visto que o goleiro B parece não estar integrado no modelo de jogo da equipe e não possui uma boa relação com bola com os pés. Essa não integração não atinge apenas o goleiro mas toda a equipe, pois se esse jogador recoloca a bola em jogo ou faz um passe mais de 50% das vezes de forma errada toda a equipe precisa se organizar rápido para recuperar a bola ou para impedir que o adversário chegue até o gol.

Já o goleiro A é um exemplo de goleiro integrado no modelo da equipe e vem se destacando por isso há algum tempo. Ele é um jogador como outro qualquer antes mesmo de ser goleiro. Em muitos jogos ele participou da manutenção da posse de bola, fez coberturas, cortou lançamentos, etc. Várias de suas ações realizadas com os pés evitaram que a equipe adversária chegasse a sua meta.

Será então que quanto mais integrado o goleiro menos ele agirá nas ações de defesa à meta?

Claro que a resposta não é nada simples e cada comissão deve pensar em seu modelo de jogo e em como o goleiro deve participar do mesmo.

O fato é que a integração é complexa e as atividades devem ser elaboradas a fim de atingir os objetivos relacionados às “habilidades específicas”, “reposições” e “passe” do goleiro.

A atividade abaixo ilustra como uma atividade pode ajudar na integração do goleiro na organização coletiva da equipe e desenvolver sua habilidade com os pés.
Lembre-se que essa atividade é utilizada para fins didáticos e não pode ser entendida e aplicada de forma isolada mas sempre contextualizada ao modelo de jogo da equipe e ao processo de treino.

Descrição
- Atividade é composta por 2 equipes de 4 jogadores mais 1 goleiro.

Pontuação
- Equipe marca 3 pontos se fizer o gol.
- Equipe marca 1 ponto se trocar 5 passes utilizando o goleiro.
- Equipe marca 5 pontos se trocar 5 passes utilizando o goleiro e fizer o gol.


Lembre-se nada é receita de bola, ou bolo...

Até a próxima!

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