domingo, 16 de janeiro de 2011

Goleiro - Um organismo estranho ao treino?

O treinamento de goleiro surgiu no Brasil de forma sistematizada e orientada por um profissional específico nos anos 70 através de Valdir Joaquim de Moraes, que havia sido goleiro e é considerado um dos maiores jogadores da posição de todos os tempos. Nesta data a comissão técnica já tinha a figura do preparador físico instituída em algumas seleções desde a Copa do Mundo de 1954. Tanto o preparador físico como o preparador de goleiros surgiram da necessidade de melhorar o jogar da equipe e suprir aparentes lacunas verificadas no jogo. O preparador físico surgiu a partir da análise de que apenas treinos técnicos não estavam garantindo o bom jogo da equipe. O preparador de goleiro surgiu, pois a técnica do goleiro não era apurada e ninguém da comissão era especialista neste quesito.

Foto: Museu da Pessoa

A preparação física dos jogadores de futebol era norteada pelos mesmos princípios do treinamento do atletismo e do fisiculturismo. A preparação de goleiros uniu esses princípios da preparação física com o treinamento técnico da posição. Os goleiros passaram a treinar separados da equipe e com um volume muito alto de treinamento. Sua sessão de treino tinha duração maior que o restante dos atletas de linha. Isso devido à grande responsabilidade dos goleiros e do mito de que “o goleiro deve ser o primeiro a chegar e o último a sair” e que seus treinos devem ser mais desgastantes que o dos demais jogadores. Nesta época as questões fisiológicas da posição ainda não faziam parte da discussão a respeito do treino.
Nas décadas seguintes existem poucos relatos históricos a respeito da preparação de goleiros, mas o que se nota é que a preparação física evoluiu baseando-se em estudos científicos, mas ainda de forma fragmentada na maioria das vezes. Já a preparação de goleiros ainda engatinha neste quesito. São poucos os livros e estudos científicos que tratam da posição. É claro que a preparação de goleiros evoluiu e hoje alguns goleiros brasileiros conseguiram destaque internacional, mas será que a posição se resume apenas a técnica?

Foto: GEPFFS

Hoje o goleiro ainda parece um organismo estranho ao treino, já que ele continua treinando separado do restante da equipe na maior parte do treino. O treinamento de goleiro muitas vezes se foca apenas nas componentes técnicas e físicas da posição e as questões táticas e psicológicas são deixadas de lado. A técnica e a capacidade física do goleiro são fundamentais mas não são as únicas. O goleiro deve ser estimulado dentro do processo de treinamento a tomar decisões, participar da organização tática da equipe e isso deve ser bem orientado. Assim o goleiro terá um acervo melhor para agir nas situações do jogo. Ele deve ser estimulado também no que tange as ações com os pés, pois desta maneira a equipe poderá utilizar “mais um jogador de linha quando precisar” (O goleiro é um jogador de linha que pode pegar a bola com as mãos dentro da grande área da sua equipe, entretanto ele é subutilizado e parece que tem a única e exclusiva missão de proteger a meta).
Edgar Morin afirma que é preciso conhecer as partes para se conhecer o todo e conhecer o todo para se conhecer as partes. Essa frase se aplica de forma integral a preparação de goleiros. É preciso se conhecer as partes técnicas, táticas, físicas e psicológicas específicas à posição, mas não de forma fragmentada do todo e sim integrada com o mesmo. O goleiro deve ser treinado não apenas nas questões técnicas e físicas mas de uma forma global incluindo as questões táticas e psicológicas da posição.
O treino deve prepara o goleiro para agir da melhor maneira possível dentro da imprevisibilidade do jogo. Se o goleiro for treinado em situações onde ele sabe onde o treinador vai chutar a bola e sem adversários esperando o seu rebote. Pode ser que no jogo ele não estará preparado para ler a jogada e tentar se posicionar de forma adequada. Nos treinos ele deve estar sendo preparado para ler a jogada, decidir a melhor forma de agir e realizar a ação técnica. Se ele errar na leitura da jogada ou não decisão ele fatalmente poderá tomar o gol. Isso pode ser notado quando um goleiro “tecnicamente perfeito” comete um erro “técnico” e acaba levando o gol. O goleiro precisa analisar a situação a todo o momento e responder da melhor maneira possível. Claro que as questões físicas e técnicas são fundamentais para o bom jogo do goleiro, mas esses devem estar subordinados ao jogo e integrados às componentes táticas e psicológicas do mesmo.

Bruno Baquete

2 comentários:

Anônimo disse...

Brunão, parabéns pela iniciativa. O futebol brasileiro agradece. Sucesso com o novo blog. Sei que terá muita coisa boa para dizer neste espaço.
Abraços,
Lucas

Futebol Integrado disse...

Obrigado pelo comentário!
Com certeza esse será um espaço para muitas discussões!
Abraço!