sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O papel dos jogos no treinamento da equipe

Hoje os jogos estão cada vez mais presentes nos treinamentos, mas para que eles servem? Para treinar a parte técnica em ambiente de jogo? Para treinar a parte física? Como moda, necessidade? Como uma nova exigência do futebol onde os jogadores precisam ser estimulados tendo o modelo de jogo como norte?

O jogo de futebol acontece em um campo de dimensões que variam de 45 – 90 m de largura e 90 – 120 m de comprimento com 22 jogadores ocupando esse espaço. A partir deste parâmetro inicial podemos supor que os jogos reduzidos acontecerão em um campo menor e com menos jogadores. Então os jogos reduzidos nada mais são do que jogos com dimensões menores e com menos jogadores que o jogo formal. Porém antes de tomarem suas conclusões sobre esse tipo de atividade, já afirmo que as coisas não são tão simples assim, pelo contrário, são bem complexas.
Os jogos, não mais os reduzidos mas os jogos para o desenvolvimento do jogar da equipe, devem ser concebidos tendo o modelo de jogo da equipe como o norte e respeitar a especificidade do futebol. Definido o modelo de jogo da equipe, os conteúdos podem ser distribuídos ao longo do processo de treino. Esse processo deve ter início no primeiro dia de trabalho e perdurar por toda à temporada. Neste processo todas as atividades têm ligação entre si e o grau de complexidade das mesmas aumentará conforme a evolução do jogar da equipe. Com isso não haverá um pico de PERFORMANCE DE JOGO, mas sim uma evolução gradual do jogar da equipe.
Se os jogos não obedecerem uma sequência processual, serão apenas jogos pelos jogos onde cada um tem o fim em si mesmo. Claro que os jogadores evoluirão em determinados aspectos dentro desses jogos sem sistematização, mas o jogar da equipe não evoluirá de forma progressiva ao longo da temporada. Cada jogo deve fazer parte de um sistema maior e o fim é o jogar da equipe.


Além disso os jogos devem ser fractais do jogo formal, ou seja, deve contemplar todas as características do jogo como um todo. (Um exemplo de fractal é o DNA. O DNA é um fractal do indivíduo pois contém todas as informações do mesmo e é específico de cada um.)
 “ O treinamento pelo jogo e para o jogar, como fractal de um processo de desenvolvimento da performance, deve garantir que todo sistema fisiológico, bioquímico, cognitivo, etc., humano, aprenda a reagir de maneira mais eficaz àquela situação que é a sua de trabalho, de competição: o próprio jogo” Leitão, 2009.
Nesses jogos fractais, tudo o que acontece no jogo formal está acontecendo. Porém, precisamos de regras específicas e de intervenções pontuais do treinador para potencializar determinados comportamentos dos jogadores dentro dessas atividades. Por exemplo, em uma determinada atividade o conteúdo trabalhado será a recuperação da posse de bola. Para isso, é preciso criar regras para que seja vantajoso a recuperação da posse de bola e as intervenções devem ter o foco nesse comportamento específico da equipe. Uma atividade hipotética em forma de jogo com esse objetivo traz consigo todos os elementos do jogo (elementos técnicos como os passes, táticos como movimentações, ocupação de espaço, físicos como a força específica manifestada nas travagens e mudanças de direção, etc.). mas a equipe desenvolverá prioritariamente as questões relacionadas à recuperação da posse de bola.
Conceber o treino dessa forma não é nada simples mas no futebol o tempo é escasso e precisamos otimizá-lo e treinar o jogar da equipe de uma forma complexa e não fragmentado como afirma Leonardo (2008) onde se treina o físico para “agüentar” o jogo, o técnico para “executar” o jogo, e o tático para “movimentar-se” no jogo, deve-se treinar o jogo que se quer jogar e assim o jogador estará condicionado para jogar o jogo.

Referências

LEITÃO, R. A. O Jogo de Futebol: Investigação de sua estrutura, de seus modelos e da inteligência de jogo, do ponto de vista da complexidade. Tese (Doutorado)-Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.

LEONARDO, L. O fim da preparação física?. 2008. Disponível http://www.universidadedofutebol.com.br Acesso em: 28 de jan. de 2011.

Bruno Baquete


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Integração do Goleiro no Modelo de Jogo da Equipe.

Segundo a “International Board” existe apenas um jogador que pode utilizar as mãos durante uma partida de futebol. Esse jogador possui suas peculiaridades modeladas por essa regra específica que delimita também onde este pode utilizar as mãos para tocar a bola (a grande área de sua equipe). Fora da grande área, o goleiro, pode utilizar qualquer parte do corpo para tocar a bola exceto os braços e as mãos como qualquer outro jogador. Até a década de 90 a regra também permitia a utilização das mãos pelos goleiros quando a bola era recuada por um jogador de sua equipe, após essa data os goleiros não mais poderiam utilizar deste artifício. Com a mudança desta regra alguns goleiros passaram a não mais participar do jogo quando a bola estava com sua equipe. Eles se “auto-limitaram” a ficar “dentro do gol” esperando futuras investidas da equipe adversária.

Entretanto alguns goleiros utilizaram a regra a seu favor, como o caso mais famoso no Brasil do goleiro Rogério Ceni (Goleiro do São Paulo F. C.), que em outubro de 2007 foi capa da revista “Placar” que o intitulou de “Ceni: O revolucionário” não só pelas cobranças recorrentes de falta, mas pelo seu entendimento coletivo do jogo e de sua participação com os pés. Segundo o próprio goleiro a sua participação com os pés constituem mais de 50% de suas ações no jogo. Mesmo quando Rogério não está participando através de ações com bola no jogo, ele está participando a fim do cumprimento do modelo de jogo da equipe. Como mostra a figura abaixo retirada da revista Placar (de outubro de 2007. Ed. 1311), onde o goleiro aparece como o “zagueiro da sobra”:

Foto: Placar

Na mesma revista Gilmar Rinaldi (Ex- goleiro de futebol) afirma que não é nenhum exagero afirmar que o São Paulo com Ceni não joga no 3-5-2 mas no 1-3-5-2 pois o goleiro participa ativamente do jogo e que “ele está à frente do seu tempo”. Será que ele realmente está à frente de seu tempo ou o restante dos goleiros que pararam no mesmo?


Rogério Ceni é uma exceção a regra mas mostra que é possível sim inserir o goleiro no processo coletivo da equipe. Além dele existem outros goleiros lutando por esse espaço, mas esse movimento ainda é pequeno e existe muita resistência desde a base dos clubes.


A adaptação do goleiro ao modelo de jogo da equipe varia de país para país, continente para continente, clube para clube. Em determinados locais o goleiro é elemento inerente na construção ofensiva, de transição e defensiva da equipe, já em outros locais ainda se sente calafrios quando a bola é recuada para o goleiro ou quando este sai para interceptar um lançamento. Quero deixar claro que antes mesmo da mudança da regra, o goleiro poderia participar da construção coletiva do jogo e Rinus Michel o fez nos anos 70 com o Futebol Total holandês, onde o goleiro era utilizado como líbero pela equipe.


Mas como pensar o goleiro de forma completa inserido no modelo de jogo da equipe cumprindo princípios operacionais, estruturais e se comportando como um elemento que se relaciona e possui uma relação sinérgica e interdependente com os outros elementos do sistema?


Primeiro devemos entender o modelo de jogo da equipe, que em linhas gerais é o norte balizador das ações de todos os elementos do sistema nos 4 momentos do jogo (Ataque, Defesa, Transição Defensiva, Transição Ofensiva), no modelo de jogo o treinador traça comportamentos que espera que a equipe tenha no jogo formal propriamente dito. Para que a equipe atinja esse modelo esperado, o treinador deve planejar todos os seus treinos tendo por base a sua estrutura (do modelo de jogo).


Dentro do modelo de jogo discutiremos os princípios operacionais de jogo propostos por Claude Bayer (1994) que discute esses princípios através da ótica dos jogos desportivos coletivos de uma forma geral, no nosso caso utilizaremos uma visão voltada para o futebol em específico.


Os princípios operacionais são compostos por princípios de ataque:
- Ataque ao alvo, onde a equipe que ataca tem como padrão de comportamento atacar de forma prioritária o alvo assim que se inicia o momento de ataque.
- Progressão ao Alvo, onde a equipe tem como comportamento progredir ao alvo sempre que inicia o momento de ataque.
- Manutenção da posse de bola, onde a equipe tem como padrão principal manter a posse de bola.


Contrário a isso existe os princípios operacionais de defesa:
- Proteção ao Alvo, onde a equipe que se defende tem como prioridade proteger o alvo como comportamento.
- Impedir Progressão, onde a prioridade da equipe é impedir o avanço da equipe adversária.
- Recuperação da Posse de bola, onde a equipe tem como prioridade nos momentos de defesa recuperar a posse de bola.


Nesta análise deve se tomar alguns cuidados, pois muitos confundem os princípios de jogo com fase de ataque e de defesa onde à equipe deve transitar pelos 3 princípios em uma jogada para obter êxito. É claro que tudo está acontecendo a todo o momento, mas os princípios devem ser analisados como padrões da equipe e não fases.


O modelo de jogo contém o princípio operacional dominante da equipe e cada princípio traz implicações específicas a todos os jogadores da equipe e com o goleiro não é diferente. Contrariando a idéia de que ele vai agir apenas protegendo o alvo, o goleiro pode e deve agir de forma ideal respeitando a especificidade de sua posição. Faremos então uma análise a respeito dos princípios e a atuação do goleiro.


No princípio operacional de ataque de “manutenção da posse de bola” o goleiro deve participar ativamente com os pés a fim de aumentar a área de jogo da equipe e assim potencializar a possibilidade de cumprimento de tal princípio da sua equipe. No princípio operacional de “progressão ao alvo” o goleiro em especial deve repor a bola de forma adequada a tal princípio (claro que em todos os princípios o goleiro deve ter essa preocupação) a fim de potencializar o cumprimento do princípio da equipe, ou seja, deve se preocupar em fazer a bola progredir no campo de jogo, mas não de forma aleatória, ele deve aproveitar o fato de repor a bola com as mãos ou com os pés “sem” a pressão do adversário de forma adequada. O princípio de ataque ao alvo é pouco utilizado como padrão predominante de uma equipe do futebol e o goleiro participa relativamente pouco neste caso, usualmente ele participa em momentos extremos onde a equipe precisa do resultado e o jogo está acabando e o goleiro vai ao ataque tentar a finalização, ou também no caso de cobranças de faltas, onde o goleiro é o batedor.


Vamos agora para os princípios operacionais de defesa, começaremos pelo princípio operacional de “Recuperação da posse de bola” neste caso o goleiro deve agir na sua área de atuação realizando ações que visem recuperar a bola de forma mais “agressiva”, ou seja, deverá sair mais do gol, tanto para cortar cruzamentos, passes e lançamentos, mas sempre respeitando sua especificidade e nunca deixando o gol desprotegido. “Impedir progressão” neste caso o goleiro deve se posicionar de forma adequada conforme a movimentação da equipe e em jogadas diretas contra o adversário (1x1) deve realizar ações que visem impedir a progressão direta do adversário que em muitas vezes pode terminar em gol. “Proteção ao alvo” esse princípio parece ser inerente ao goleiro, em todas as situações a preocupação principal do goleiro deverá ser proteger o alvo, e ele agirá na maioria das vezes como ultima barreira para o cumprimento desse princípio e sempre em situações de grande urgência e com pouco tempo para resolver o problema e caso a decisão tomada seja pouco adequada à conseqüência pode ser o gol da equipe adversária. Esse último princípio parece ser o mais importante para o goleiro, mas como foi descrito acima o goleiro pode participar de forma ativa nos demais.


Todos esses apontamentos da ação do goleiro estão interligados e são utilizados a todo o momento. Foi feita a separação dos princípios por motivos didáticos e o goleiro deve a todo o momento responder de forma adequada ao estímulo e não se basear em apenas 1 opção. O importante nesta discussão é entender a essência da posição nos diferentes princípios de jogo.

Bruno Baquete

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Treinando a manutenção da posse de bola

A equipe do Barcelona, como todos sabem, gosta de manter a posse de bola com passes curtos e rápidos. Essa é a característica principal que faz parte do modelo e da cultura de jogo do clube. O vídeo abaixo ilustra bem a forma de jogar da equipe no momento ofensivo:


Mas como treinar a equipe para jogar dessa forma? Sua equipe joga dessa maneira? Se o treinador falar com seus jogadores eles conseguirão jogar assim?
Vou apresentar uma atividade para o desenvolvimento da manutenção da posse de bola. O jogo apresentado parece "pouco complexo" (durante os meus textos explorarei gradativamente jogos com mairo complexidade), mas vocês virão que mesmo assim existem muitos aspectos que precisam ser levados em conta para a sua aplicação prática. Gostaria de destacar ainda que todo exercício deve estar inserido em um processo de treinamento adequado que respeite o modelo de jogo da equipe.



A atividade será composta por 2 equipes de 7 jogadores mais 2 coringas que auxiliarão a equipe que estiver com a posse de bola.
A equipe marcará 1 ponto quando conseguir realizar 8 passes consecutivos.
Os goleiros participarão como jogadores de linha.
Os coringas serão trocados após um determinado tempo (3-10 min.).
A dimensão do campo pode variar. Um campo “grande” (maior que 50m X 45m) dará ao jogo um caráter mais aeróbio. Em relação à componente psicológica/cognitiva o jogador terá mais opções e um tempo maior para decidir o que fazer.
Já em um campo “pequeno” (menor que 40m X 30m) o jogo terá um caráter mais anaeróbio e a componente cognitiva será mais exigida, pois o jogador terá que decidir o que fazer em um espaço menor e com menos opções.
A atividade deve atingir a zona de desenvolvimento proximal dos jogadores. Segundo Vygotsky essa zona é uma área de desenvolvimento cognitivo entre o real e o potencial, ou seja, está entre o que o indivíduo é e o que ele pode ser. É nesta área que o desenvolvimento acontece, mas isso só ocorre se o indivíduo for submetido a estímulos adequados, nem muito forte, nem muito fraco.
O tempo da atividade é relativo e deve ser determinado pela capacidade dos jogadores em solucionar os problemas da mesma. O objetivo principal, como já foi dito, é a manutenção da posse de bola, no início do exercício os jogadores devem ter dificuldades (se eles não tiverem dificuldades é sinal que o jogo não atinge a zona de desenvolvimento proximal e que não potencializará a forma de jogar da equipe) em realizar os 8 passes, mas com o passar do tempo eles vão entendendo o que precisa ser feito e vão solucionando os problemas de como estruturar o espaço do jogo, como utilizar os coringas para a manutenção da posse de bola, como criar linhas de passe seguras, etc. Assim que os jogadores, dentro do exercício, apresentarem uma facilidade em manter a posse de bola é sinal que eles atingiram uma nova zona de desenvolvimento e que precisam ser submetidos a novos problemas a partir de uma variação do próprio jogo (restringir o número de toques na bola, inserção de golzinhos, etc.) ou a partir de uma nova atividade que tenha ligação com a anterior.
Essa ligação entre as atividades deve ser muito bem definida para que não haja problemas na evolução do “jogar” da equipe. Para isso a comissão deve ter um processo muito bem estruturado e condizente com as necessidades do clube no qual se está trabalhando.

Bruno Baquete

domingo, 16 de janeiro de 2011

Goleiro - Um organismo estranho ao treino?

O treinamento de goleiro surgiu no Brasil de forma sistematizada e orientada por um profissional específico nos anos 70 através de Valdir Joaquim de Moraes, que havia sido goleiro e é considerado um dos maiores jogadores da posição de todos os tempos. Nesta data a comissão técnica já tinha a figura do preparador físico instituída em algumas seleções desde a Copa do Mundo de 1954. Tanto o preparador físico como o preparador de goleiros surgiram da necessidade de melhorar o jogar da equipe e suprir aparentes lacunas verificadas no jogo. O preparador físico surgiu a partir da análise de que apenas treinos técnicos não estavam garantindo o bom jogo da equipe. O preparador de goleiro surgiu, pois a técnica do goleiro não era apurada e ninguém da comissão era especialista neste quesito.

Foto: Museu da Pessoa

A preparação física dos jogadores de futebol era norteada pelos mesmos princípios do treinamento do atletismo e do fisiculturismo. A preparação de goleiros uniu esses princípios da preparação física com o treinamento técnico da posição. Os goleiros passaram a treinar separados da equipe e com um volume muito alto de treinamento. Sua sessão de treino tinha duração maior que o restante dos atletas de linha. Isso devido à grande responsabilidade dos goleiros e do mito de que “o goleiro deve ser o primeiro a chegar e o último a sair” e que seus treinos devem ser mais desgastantes que o dos demais jogadores. Nesta época as questões fisiológicas da posição ainda não faziam parte da discussão a respeito do treino.
Nas décadas seguintes existem poucos relatos históricos a respeito da preparação de goleiros, mas o que se nota é que a preparação física evoluiu baseando-se em estudos científicos, mas ainda de forma fragmentada na maioria das vezes. Já a preparação de goleiros ainda engatinha neste quesito. São poucos os livros e estudos científicos que tratam da posição. É claro que a preparação de goleiros evoluiu e hoje alguns goleiros brasileiros conseguiram destaque internacional, mas será que a posição se resume apenas a técnica?

Foto: GEPFFS

Hoje o goleiro ainda parece um organismo estranho ao treino, já que ele continua treinando separado do restante da equipe na maior parte do treino. O treinamento de goleiro muitas vezes se foca apenas nas componentes técnicas e físicas da posição e as questões táticas e psicológicas são deixadas de lado. A técnica e a capacidade física do goleiro são fundamentais mas não são as únicas. O goleiro deve ser estimulado dentro do processo de treinamento a tomar decisões, participar da organização tática da equipe e isso deve ser bem orientado. Assim o goleiro terá um acervo melhor para agir nas situações do jogo. Ele deve ser estimulado também no que tange as ações com os pés, pois desta maneira a equipe poderá utilizar “mais um jogador de linha quando precisar” (O goleiro é um jogador de linha que pode pegar a bola com as mãos dentro da grande área da sua equipe, entretanto ele é subutilizado e parece que tem a única e exclusiva missão de proteger a meta).
Edgar Morin afirma que é preciso conhecer as partes para se conhecer o todo e conhecer o todo para se conhecer as partes. Essa frase se aplica de forma integral a preparação de goleiros. É preciso se conhecer as partes técnicas, táticas, físicas e psicológicas específicas à posição, mas não de forma fragmentada do todo e sim integrada com o mesmo. O goleiro deve ser treinado não apenas nas questões técnicas e físicas mas de uma forma global incluindo as questões táticas e psicológicas da posição.
O treino deve prepara o goleiro para agir da melhor maneira possível dentro da imprevisibilidade do jogo. Se o goleiro for treinado em situações onde ele sabe onde o treinador vai chutar a bola e sem adversários esperando o seu rebote. Pode ser que no jogo ele não estará preparado para ler a jogada e tentar se posicionar de forma adequada. Nos treinos ele deve estar sendo preparado para ler a jogada, decidir a melhor forma de agir e realizar a ação técnica. Se ele errar na leitura da jogada ou não decisão ele fatalmente poderá tomar o gol. Isso pode ser notado quando um goleiro “tecnicamente perfeito” comete um erro “técnico” e acaba levando o gol. O goleiro precisa analisar a situação a todo o momento e responder da melhor maneira possível. Claro que as questões físicas e técnicas são fundamentais para o bom jogo do goleiro, mas esses devem estar subordinados ao jogo e integrados às componentes táticas e psicológicas do mesmo.

Bruno Baquete

Modelo de Jogo

O conceito de modelo de jogo (MJ) aparece nesse momento muito pertinente nas literaturas buscadas pelos profissionais que estão sempre à procura de evolução sobre questões ligadas aos esportes coletivos e almejam tornar cada vez mais consistente sua filosofia de trabalho. Enquanto no Brasil pouquíssimo material foi produzido sobre o tema, na Europa ele é alvo de discussões há muito tempo, como podemos observar nesse trecho escrito por Teodurescu em 1984, em que o autor considera que o modelo de jogo é uma referência, construída a partir de outras referências de ordem de rendimento superior, que postulam um conjunto de ações individuais e coletivas dos jogadores e da equipe, integradas com o espírito físico e psíquico característico do jogo. Na década de 90, o autor Júlio Garganta escreveu bastante sobre o assunto, devido à relação que o mesmo tem com sua proposta metodológica de ensino para os jogos desportivos coletivos. Recentemente, José Mourinho (2006), afirmou que ter um modelo de jogo definido é o mais importante para uma equipe de futebol, e tal modelo é um conjunto de princípios que dão organização a sua equipe por isso deve ter relevância especial desde o primeiro dia de trabalho. O treinador português e o autor romeno Teodurescu, em publicações com intervalo maior do que vinte anos referem-se ao conceito de MJ com muita proximidade, apesar de utilizarem-se de algumas palavras distintas para descrevê-lo.

Foto: André Aroni

O modelo de jogo é o núcleo de toda a periodização tática, sem a definição do modelo torna-se descontextualizado o trabalho sob a perspectiva da periodização tática. O foco nesse novo cenário está na forma de jogar que será construída ao longo da temporada, visando uma regularidade competitiva e evolução constante nos comportamentos da dominante tática para que se atinja o “pico do modelo de jogo” como objetivo do processo. A periodização deve englobar a especificidade do MJ adotado em aspectos cognitivos, físicos, táticos, técnicos e psicológicos, além dos princípios e sub-princípios de jogo que serão aplicados pela equipe nas organizações ofensiva, defensiva e nas transições defesa-ataque e ataque-defesa. Portanto, modelo de jogo não é somente a tática usada pelo treinador, mas sim um conjunto de ações, pensamentos e princípios seguidos pela equipe. Ao elaborar os treinos, deve-se levar em conta o MJ previamente definido, ou seja, o processo de treinamento deve englobar exercícios que seguem o MJ escolhido pelo treinador. E que fique claro que todas as equipes possuem um MJ, independente do método de treino aplicado e do conhecimento do treinador sobre o tema, o que poderá variar é o quão elaborado (ou não) é o MJ que determinada equipe apresenta no campo. Colocar onze jogadores no campo defensivo e “dar chutões” ou jogar realizando uma zona pressionante são dois MJ com um grau de complexidade bem distinto, desde a forma como se operacionalizar um treinamento para construí-los, passando pela assimilação dos atletas, até sua aplicação no jogo.
O treinador, na fase inicial do trabalho deve definir o modelo de jogo da equipe junto com sua comissão técnica, levando em conta sua idéia de jogo, a característica dos jogadores, os princípios de jogo, a organização funcional e a estrutura do clube. O modelo de jogo deve ter objetivos bem definidos e bem claros para todos, para que cheguem a atingir tais metas. Porém, devem saber que esse modelo de jogo pode sofrer ajustes, para que haja um aperfeiçoamento gradativo.

Referências Bibliográficas

Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.

Oliveira, B. et al (2006) Mourinho: Porquê tantas vitórias?. Editora Gradiva. 2006.

Teodurescu, L. (1984) Problemas de Teoria e Metodologia nos Jogos Desportivos. Livros Horizonte. 1984

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